Para quem conhece a escrita da Conceição
Evaristo, já sabe que a escritora trabalha com o que chama de ‘escrevivência’,
ou o ato de se escrever o que se vive. A possibilidade de ser protagonista de
sua própria história, o direito de ser o dono de sua própria narrativa... o que
talvez sejam atos corriqueiros na vida de alguns, certamente não o são para
mulheres negras.
Em Insubmissas
Lágrimas de Mulheres, Conceição não faz diferente. O livro, publicado pela Editora
Malê em 2016, também perpassa o contar de história de tantas mulheres que
vieram e foram. Tantas que somos. Acompanhamos uma narradora que conhece
diversas mulheres negras em suas viagens, e todas elas nos permitem conhecer
seus caminhos, suas dores, seus afetos. É assim que, por exemplo, conhecemos a
força de leoa de Shirley Paixão; a primeira paixão de Isaltina Campo Belo; e Mary
Benedita, com sua fome insaciável do mundo.
Fácil de ler, o livro traz a poética de
maneiras que só a Conceição Evaristo consegue ter ao descrever o dia-a-dia. São
treze mulheres com histórias e trajetórias singulares, mas que uma coisa as une
bem para além de entrarem em contato com a narradora: todas são mulheres
negras. E isso é maior que qualquer coisa – é não compartilhar das mesmas trajetórias,
mas se ver refletida em cada pincelada.
Como diz Mary Benedita: ‘como pintar a concretude da solidão de uma mulher?’. Creio que o
quadro que Evaristo nos apresenta faz com que possamos, ao menos, espiar pelo
buraco dessa fechadura.
Comments