Desconectada de mim | Escritos

quarta-feira, 13 de março de 2019

Foto: Tumblr

Toda vez que as palavras fogem de mim, me desconecto de mim mesma. É incrível como a escrita me salva dos acúmulos dentro do peito e das minhas crises mais horríveis. Agora escrevendo isso eu até posso sentir uma dessas vindo, mas a cada palavra escrita é como se doesse menos. É muito difícil levantar todo dia, saber que tem uma vida toda pela frente quando quem se ama foi embora e não vai voltar mais. A vida é um sopro e cada dia que passa fico mais certa disso. Me mudei para uma cidade nova e apesar de levantar todo dia para ir a aula, anotar assuntos, responder perguntas, conversar e interagir sinto que parte de mim ainda fica adormecendo todo dia na minha cama. É como se não conseguisse mais vivenciar a mesma experiência de quando vim nas primeiras semanas antes do carnaval.

Alternar entre dor e tristeza profunda é um dos tantos estágios do luto. Apesar de a saudade me castigar todo dia ainda não parece que minha amiga se foi. Vejo nossas fotos, releio meu texto de despedida, olho para a pontinha da agulha no meu braço do dia em que doei sangue e ainda não parece real. Prometi que sua memória e legado enquanto pessoa viveriam comigo, Nicole, o vestibular solidário e todas as nossas amigas. Ainda leio suas mensagens no grupo às vezes, mas queria era ter coragem para escutar um de seus áudios sem ficar em prantos. Seu aniversário está se aproximando e sei que nesse dia levantar da cama e viver sem ti vai doer mais que o de costume.

Me apoiar na escrita era meu refúgio, mas nem isso tem me ajudado muito já que escrever se tornou uma tarefa quase impossível com o bloqueio. As leituras andam bagunçadas, a vida tento organizar um pouco todo dia, o coração parece mais leve num dia e no outro pesa de saudade de ti, meu cachorro, meus livros, meus pais, minha avó e os meu amigos. As noites aqui são frias e não tão quentes como em Recife o que faz com que me enrole no meu edredom e não queira sair de lá no dia seguinte, mas saio sabe. Me arrasto até o banheiro, escovo os dentes, visto uma roupa e calço um sapato. Sei que odiaria que me afundasse na ansiedade ou nos meus complexos internos e deixasse de viver. Por isso acordo, penso na sua força e até peço um pouco dela emprestada e assim vou viver.

Só viver.
Leve, devagar e uma coisa de cada vez.
Num ritmo menos Andresa de ser que estava sempre ligada no duzentos e vinte, mas aos poucos vou recobrando os sentidos a confiança em mim mesma, nas palavras e no que planejei viver aqui nessa cidade.

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