Dançando sob as estrelas esta noite sonhei que encontrava você.
Tinhas um buquê em mãos, mas nem ousei perguntar porquê. Conversamos alegremente sobre a vida e nossas expectativas pra esse ano que tecnicamente tinha acabado de se iniciar. Contei sobre o livro e como tenho caminhado com as histórias novas, rimos, nos divertimos. Falamos até sobre o clima. Quente. Como sempre. Essa cidade não seria tão diferente se não fosse calorosa o suficiente para manter o calor dos seus amores efêmeros.
A noite estava prefeita parecia um sonho. O que de fato era, pois nossos caminhos não se cruzam há três longos anos. Acordei atordoada me perguntando se tudo aquilo tinha sido real. Podia sentir o cheiro amadeirado do seu perfume escapar pela ponta dos meus dedos, aquilo me assustou. O cheiro era de casa e ao mesmo tempo de passado.
Retornar aquela noite que nunca existiu graças a chuva que impediu de nos encontramos. E por um segundo naquela madrugada, permiti-me pensar onde anda você. O que tem feito da vida, se passou naquele concurso e se tornou quem tanto almejou por anos. Se ainda enrola o cabelo na ponta dos dedos. Será que suas bochechas ainda são tão coradas quanto posso me lembrar? Desperto do desvaneio quando o celular vibra em minha cama, saio da janela e o pego. Ao voltar a observar a cidade vejo que o céu está escuro e não tem uma estrela ao contrário do meu sonho que tinha inúmeras delas.
O celular vibra outra vez e é uma mensagem da operadora tenho um novo recado. Ligo para caixa postal e:
- Ah, oi, não sei se você ainda tem esse número. Mas já faz três anos e eu nunca tive oportunidade de dizer o que sentia e talvez nunca tenha. Éramos tão jovens, ainda somos, mas na época adolescentes confusos que não podiam ir ao encontro um do outro pela chuva. E fizemos aquela promessa estúpida de que se não conseguíssemos era pra seguir nossos caminhos sem olhar pra trás. Sexta o CD do seu cantor favorito foi lançado e te enxerguei em todas terminações românticas de cada canção, inclusive da mais triste. Esse tempo todo não segui em frente, me desculpe, quebrei a promessa. Agora estou em frente ao seu prédio e queria poder te observar na janela contando estrelas, mas é impossível nem tem estrelas hoje no céu.
Uma pausa é feita, escuto apenas a respiração de fundo.
- Se algum dia ouvir essa mensagem, me liga, faz um sinal de fumaça, desce e me encontra na varanda, sei lá, só aparece.
Quais as chances de isso acontecer na vida mais de uma vez na vida? Bom, particularmente eu não faço ideia, mas desço as escadas de pijama e tudo atrás dele. O amor não pode me escapar duas vezes, me deseje sorte.
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